Wednesday, September 2, 2009

Idiossincrasias do Coach

O Coach tenta com muita força manter este blog algo impessoal mas, hoje, será aberta uma excepção para falar de... bom, de mim.

Nesta fase da minha vida - após alguns anos a dar workshops acerca de Amor e relacionamentos, e a fazer consultoria amorosa - posso dizer que é-me raro "apaixonar-me" por uma mulher sem que ela se apaixone da mesma forma por mim.

Isto acontece, não porque eu seja um Don Juan, não porque que eu ande no engate - porque realmente não ando, sou muito selectivo nas relações em que entro e nas pessoas com quem me envolvo -, não porque a maioria das pessoas a quem apoio sejam mulheres, e assim eu tenha ganho um grande insight sobre a mente feminina e como a manipular, mas sim porque nas raras vezes em que me deslumbro e apaixono, aplico aquilo que é para mim a melhor forma de lidar com o Amor: a sinceridade. E a sinceridade funciona. É o pilar base de qualquer relação.

Aconteceu-me isso estas férias com uma Mulher, como há algum tempo não acontecia. Vi-a uma manhã, dentro do hotel, e senti-me arrebatado. O olhar dela, o cabelo curto - que geralmente nem gosto - a tez morena e aveludada. Senti, sorri, ela nem reparou e eu prossegui.

Voltei a encontra-la na noite seguinte, estava com colegas a assistir a um espectáculo, em pé encostado à parede, quando a vejo passar, sozinha. Ela conhecia e cumprimentou várias pessoas na sala, mas acabou por se sentar sozinha na última fila. Eu sigo-a e sento-me ao lado dela. De quando em quando olho para ela, ela mantém o olhar no show e um leve sorriso. Noto então que está a segurar os braços e a afaga-los com as mãos.

Perguntei-lhe se estava com frio e ela sorriu e disse que não, que estava bem. Voltámos ambos a olhar para o espectáculo, mas os nossos olhos já se tinham cruzado uma vez. E os olhos dela encontraram os meus com uma segurança e desprendimentos típicos de uma mulher que está segura de si e fechada a qualquer investida de qualquer homem. Provavelmente é casada, pensei. Mas sendo que não a estava a tentar seduzir, ou chegar a algum lado, mas apenas senti-la, conversar e conhecer um pouco mais daquela Mulher que me fascinou, continuei ali.

Passado algum tempo ela perguntou-me porque me tinha vindo sentar ali sozinho, porque não ia mais para a frente para ver o espectáculo melhor, ou sentar-me com pessoas que eu conhecesse. Eu disse que não estava realmente interessado no espectáculo, que me tinha vindo sentar ali para estar junto dela. Ela riu-se e disse "ahhh clarooo..." em tom sarcástico.

Isto não é algo estranho. É normal quando abordo uma mulher com a minha habitual sinceridade elas acharem que é engate, gozarem, defenderem-se, rirem-se, serem irónicas e sarcásticas. Colocarem uma postura de "estou a topar-te, os homens são todos iguais". E normalmente isto passa assim que elas percebem que não é "jogo", que não estou no engate, que nem sequer quero "atingir" nada mais do que o privilégio - se elas assim o concederem - de as conhecer, de as descobrir, de sentir, de ouvir e de falar. Geralmente, para mim, criar uma profunda amizade e empatia com uma mulher é mais que suficiente. Não é preciso conquista, não é preciso Amor, não é preciso sexo.

Aqui houve dois problemas. O primeiro é que - sem eu estar consciente disso - eu comecei realmente a fazer um pouco de jogo. E o segundo é que, com ela, amizade ou só conhecimento não era suficiente. De todo. Eu queria aquela Mulher. Desejava-a intensamente. Mas, estando em negação, fui fazendo um joguinho interior de "eu não quero nada, só falar com ela e conhecê-la", que se revelava num jogo parvo exterior de tentar aparentar que não queria nada, querendo.

E tudo isto foi semi-inconsciente e semi subtil. E que Mulher aquela, ela lia-me perfeitamente, sem nunca o dizer. Tudo o que fazia era resistir condignamente às minhas investidas, dissesse eu o que dissesse ela desviava o assunto para a minha insinceridade, em tom jocoso.

Isto prolongou-se por vários dias. Sempre que a via, estivesse ela com amigos, ou sozinha, eu ia cumprimenta-la. E eu acabava sempre por fazer algum comentário, mandar alguma piada que, mesmo que não tivesse nada que ver com ela, ela respondia sempre da mesma forma "ai ai... Don Juan...", ou "pronto, lá vem ele com o charme...". Sempre em tom altivo e gozão. E vendo que eu continuava a insistir, os comentários dela começaram a ser mais frios, mais duros... claramente pushing me away.

Então, durante um dia, deixei-a em paz. Não a procurei, não falei com ela, não disse nada. Senti saudades. Senti desejo. Ela não me saía da cabeça. No final do dia seguinte fui esperá-la à porta do quarto dela. Quando ela apareceu, olhou-me surpreendida, séria, e eu atirei com um "não pensaste que eu ia desistir tão facilmente pois não?" ela fez aquele ar enjoado e revirou os olhos, disse que tinha que se deitar, que tinha combinado acordar cedo. Eu disse que não queria incomodar, que só queria um abraço de boa noite. E ela deu-me o abraço. Senti todo o corpo dela em mim, um abraço frio e impessoal da parte dela, mas altamente sentido da minha parte.



Quando nos afastámos fiquei a olhar para ela. Ela procurava a chave na mala e eu senti uma onda de paixão, carinho e admiração tão grande que por uns momentos, interiormente, não estava qualquer negação, não estava qualquer jogo, não estava qualquer intenção oculta. Eu gostava dela, e aquele abraço fez-me desejá-la ainda mais. Ela olhou-me brevemente antes de entrar, com o olhar frio, e depois - por um segundo, por um pequeno momento - quase imperceptivelmente o olhar dela mudou, abriu, viu mais do que costumava ver ao olhar-me. Sentiu mais do que costumava sentir. Ou pelo menos foi essa a minha percepção.

Porta fechada e mais um dia passado.

Eu estava num país no outro lado do mundo, faltava um dia para me vir embora, estava a espera do quê? Qual era o propósito de tudo isto? Que estava eu a fazer?

Pois bem, estava a aprender. E no último dia consegui compreender-me e ultrapassar-me. É muito fácil despertar o interesse de uma mulher quando estamos apenas levemente interessados, quando há alguma empatia, quando temos apenas curiosidade. Especialmente quando temos confiança, segurança e até - pasme-se - nos consideramos um Homem a sério.

Mas quando estamos profundamente apaixonados tudo é diferente. E era isso que se passava ali. Eu senti aquela chama que é tão raro sentir-se e que normalmente tentamos racionalizar e apagar e diminuir. Mas não havia racionalização ali ou meia medida. Eu fiquei apaixonado por uma Mulher que não conheço de lado algum. Não foi a primeira vez que me aconteceu mas devo confessar que, as years go by, torna-se mais e mais raro.

E estava a ser um palhaço. A tentar ser o que, naquele momento, não era. A tentar mostrar o que, naquele momento, não sentia, a fazer piadas quando o que me apetecia era segurar-lhe as mãos e declamar-lhe poemas, abraçá-la, apertá-la, beijá-la, e Amá-la.

E foi isso que fiz no último dia. Excepto a parte do beijar. Bom, e também não fizémos amor, se bem que nos tenhamos amado. Encontrei-a sozinha a apanhar sol, sentei-me ao pé dela e não disse nada. Lembram-se d'"O Principezinho"? "As palavras são uma fonte de mal entendidos". E assim fiz. Sentei-me e deixei o silêncio falar.

Ela olhou para mim esperando o comentário ardiloso do costume. Mas eu não disse nada. Estava com saudades dela. Ia-me embora ao final do dia e já estava com saudades dela. E fiquei ali, só a sentir todo aquele turbilhão de carinho, paixão, saudades, tristeza pelo tempo que não partilhámos com maior qualidade.
E ela continuava a olhar para mim. E pouco a pouco a expressão dela mudou. Foi-se alterando suavemente até se acomodar naquele ponto que eu tinha visto - por breve instantes - na noite anterior, à porta do quarto. Disse ela: "vês? esse olhar já não tem nada que ver com essa onda Don Juan que andavas para aí a espalhar". Como ela me sabia tão bem, no mais profundo de mim.

Eu continuei a olhá-la e disse "sabes... eu não sei explicar o que sinto, mas sinto algo. Não gosto de estar a classificar ou dar nomes, não quero idilizar nem criar cenários nem imagens. Mas sinto. É muito forte, é bonito, é profundo. Sinto algo que penso ser raro sentir e não tenho lógica nem racionalidade para o explicar. Apenas sinto. E cá dentro, sinto que tu também sentes..."

Ela ficou uns segundos a olhar para mim antes de sorrir e dizer "sim... eu também sinto".


E ficámos abraçados até ao sol se pôr, assim, sem nos beijarmos, sem fazermos Amor.


"Só podemos ser sinceros com os outros, quando conseguimos ser sinceros com nós mesmos" - The Love Coach ...

18 comments:

  1. Partindo do princípio de que isso é verídico... bonita história. ;)
    Estranho estarem ambos a passar férias "sozinhos"...

    Fez-me lembrar aquelas comédias românticas que se passam sempre em Itália.

    *

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  2. A sinceridade é uma coisa rara hoje.
    Não sabemos ser sinceros connosco mesmos, não sabemos partilhar o que sentimos, mesmo quando temos as palavras na garganta, ou não sabemos calar o que sentimos ser mentira e escolhemos dizer à mesma.

    Tenho pensado naquilo que nos transcende, que não conseguimos explicar...a razão por nos sentirmos inexplicavelmente e irremediavelmente atraídos por alguém (especialmente quando esse alguém é errado, ou sentimos não ser certo para nós).

    Parte de mim espera sentir algo como descreveste - se calhar a minha parte romântica e levemente infantil, sem estar à espera, sem medos, sem pensar no futuro.
    Depois há a parte que, a bem ser, já o sente, de maneira diferente, mas sente e que me custa tanto negar.

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  3. adorei a "tua história". identifiquei-me imenso contigo no terceiro parágrafo.

    parabéns pelo blog e obrigado pela visita ao meu "estaminé"

    kiss kiss

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  4. Ai tão lindo!!! uau até fiquei arrepiada. Só a mim não me acontecem coisas destas... bjs

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  5. A mim parece-me que fizeram amor... =)

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  6. Bom dia honradas fêmeas deste blog :)

    Ginger: Alguma vez falhei para com a verdade? É verídico sim. Não estávamos sozinhos, estávamos ambos com amigos, no mesmo resort ;)

    Rosa: É, a incontinência verbal (para com a verdade e para com a mentira) é uma questão delicada. Da minha experiência de vida, sempre que senti essa coisa que não conseguia explicar havia algo a aprender. Havia algo a ser vivido. E então podemos escolher ir lá, viver, apaixonar, sentir, sofrer, doer, aprender, levantar. Ou podemos ter medo e ir deixando a vida passar por nós, assim a uma distância confortável, para não nos magoar. :)

    Sofia: Bem-vinda :) a maioria das pessoas a quem apoias também são mulheres? :D Que bom que também repousas o traseiro na sinceridade. É um bom alicerce :)

    Bela: Faz por acontecerem. Quando foi a última vez que abordaste um desconhecido? Se não há Homens que te valham, vale-te Tu. :)

    Nikky: indeed ;)

    Esparsa: Welcome back, bom saber de Ti novamente :) De facto, ei-lo. Ou eis-me. Ou "êizio". :D


    Um abraço,

    The Love Coach

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  7. Parece que as férias foram bem interessantes... ;)

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  8. Verdade verdadeira que a sinceridade é tudo. Gosto do teu blog.

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  9. Alguém disse que as mais belas palavras de amor dizem-se no silêncio de um olhar. Este é um dos pensamentos recorrentes no meu blogue. E é assim que gosto de conhecer.

    Abraço

    Ni

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  10. Ariops :)

    Princesa: foram as melhores que já tive ;)

    Sentimento: Que bom que concordas, e obrigado ;)

    Ni: true, so so true. :)


    Um abraço,

    The Love Coach

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  11. Gostei de ler a tua história e, principalmente, da parte da sinceridade. Realmente é muito importante.
    Infelizmente não lhe dão a devida importância.
    Lamentavelmente se a usam, usam-na mal.

    Bjo

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  12. Bonita historia ;)

    Para nos apaixonarmos por vezes basta um sorriso, basta um olhar...

    Bjs

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  13. Metade da Laranja: bem-vinda :) A sinceridade fomenta a confiança, a confiança afasta o medo, e o não-medo é uma das chaves para o verdadeiro Amor :)

    Carla: ...um peido, um arroto... Há coisas que é preciso amar muito para partilharmos :D


    Um abraço,

    The Love Coach

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  14. Bem-vinda Rice!

    Vómecê também não é nada mal-parecida. :)


    Um abraço,


    The Love Coach

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  15. Hum... lindo texto. O Amor pode ser vivido das mais diversas formas. Gostei desta forma de amar. Pouco exigente, pouco interesseira. Amar só por amar, mesmo sabendo que não iria resultar... :)

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  16. Nunca um homem sentiu isso por mim, nem sentirá. Acho que infelizmente só acontece com algumas. Outras como eu isso nunca acontecerá.
    Isso que falas não é amor, é paixão. A chama da paixão que não se sabe explicar. O amor crias tu dentro de ti. No fundo não a conheces, achas que conheces. Porque fostes atraído pela beleza fisica.

    Estás com ela não estás? Acho que sim.

    Por um lado fico sentida e feliz por mim, mas por outro lado sou muito sincera fico triste por mim, por mesmo que tenha valor, nunca tenha esse valor. Essa é a verdade.
    O que faz uma mulher ser segura assim é porque lhe dão mt valor, mts homens atrás. Uma mulher que é logo fácil perde logo o valor para um homem. É assim que eu sinto, que eu vivo.

    A inocência do amor nem sempre é vivida, e por vezes as pessoas agarram-se à razão, e com jogos esquemas, mesmo que incosciente. Uma mulher tornar-se dificil é um dos encantos que os homens tb adoram.

    Pode ser que numa outra vida eu possa ser assim desejada. Ou entoa mantenho me pelo outro desejo que é reecarnar num lontra fofinha. se calhar vou ser mais feliz como lontra.

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